Nova modalidade de trabalho traz desafios diferentes para a área de Segurança e Saúde Ocupacional das empresas.
As condições extremas impostas pela pandemia de Covid-19 mudaram de vez a forma como as relações de trabalho estavam estruturadas. O regime híbrido ou 100% remoto passou a fazer parte da rotina, sendo, inclusive, preferido por muitos trabalhadores. “Nunca mais teremos a rotina de ir ao escritório cinco vezes por semana como fazíamos antes da pandemia. Isto porque as empresas aprenderam que até certo ponto dá para manter e até aumentar a produtividade de algumas atividades com a equipe em home office“, diz Caroline Marcon, professora de MBAs de Gestão Estratégica de Pessoas e Liderança da FGV/SP, em entrevista para o Ig.
Diante desse novo cenário, um novo desafio surge para as companhias: adaptar os processos para funcionar com equipes a distância, especialmente os que envolvem a segurança e a saúde ocupacional. E, mesmo que ainda não haja uma regulamentação específica sobre o home office, não é possível descuidar da integridade e o bem-estar dos trabalhadores. Até mesmo porque os acidentes e doenças que podem surgir nesse cenário são diferentes daqueles de um escritório.
Por ser um fenômeno recente, há poucos estudos publicados, mas algumas questões já podem ser levantadas a partir do que é visto na prática. Se o home office contribuiu para um aumento do número de horas trabalhadas, uma pesquisa publicada pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) e pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em maio de 2021, dá o alerta. Longas jornadas de trabalho foram responsáveis por 745 mil mortes por acidente vascular cerebral e por doenças isquêmicas do coração em 2016, um aumento de 29% desde 2000.
E esses são apenas alguns dos problemas que podem surgir com o home office. Veja quais são os principais riscos e como evitá-los no dia a dia.
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Riscos no home office
Doenças do trabalho são aquelas ligadas diretamente às atividades realizadas diariamente. No regime presencial, muitas já possuem um mapeamento de todos os riscos presentes, mas, como o home office é relativamente recente para algumas, isso exige uma atenção extra das empresas. Os principais problemas estão ligados à ergonomia e à saúde mental dos funcionários, mas vamos detalhar as principais doenças que podem surgir nesse regime de trabalho.
1. Doenças mentais
Uma das questões mais afetadas durante o distanciamento imposto pela pandemia de Covid-19 foi o psicológico dos funcionários. Mas, para além das questões que envolvem o vírus, isso deve ser observado por qualquer pessoa que trabalhe em casa, pois a sensação de confinamento, agravada por não encontrar outros seres humanos por longos períodos, pode gerar quadros de estresse agudo. Se isso estiver aliado à falta de cuidados pessoais, como sedentarismo e má alimentação, os quadros tendem a se agravar e desencadear casos de burnout e depressão.
Além de buscar o auxílio de um profissional, também é possível realizar ações simples para evitar o surgimento de transtornos mentais no home office. Manter uma rotina regrada, controlar os horários de trabalho e adotar estratégias de autocuidado são fatores que contribuem para uma melhor qualidade de vida. Se possível, separar e organizar um espaço da casa dedicado apenas para o trabalho, de modo a afastar fisicamente os locais laborais daqueles de vivência e lazer.
2. Dorsalgias
As dores nas costas e na coluna são algumas das principais doenças ocupacionais observadas atualmente, causadas principalmente pela postura incorreta, pela força excessiva na hora de utilizar o tronco, pelo levantamento de peso inadequado e até mesmo por sedentarismo e obesidade. No caso do home office, tudo isso é agravado pela falta de uma estrutura adequada nas residências, que siga todas as recomendações de ergonomia pregadas pela legislação.
Nesse sentido, cabe à empresa auxiliar os trabalhadores na adoção das medidas adequadas para adaptar o espaço, inclusive fornecendo o mobiliário adequado – como cadeiras, suportes para notebook e computadores e apoios para pés. A pessoa também pode contribuir com essa prevenção, escolhendo um local adequado para realizar as atividades, mantendo o local arejado e realizando pequenas pausas ao longo do dia para se alongar.
3. LER e Dort
Casos de Lesão por Esforço Repetitivo (LER) e de Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (Dort) são comuns em profissionais da indústria, comércio, alimentação, transporte e serviços, mas podem se agravar no home office pela displicência na prevenção. Até mesmo porque as principais causas são as posturas inadequadas para realização dos serviços, jornadas excessivas, más condições ergonômicas do ambiente e técnicas incorretas para realização das tarefas.
Vale destacar que a LER não é propriamente uma doença, mas sim um conjunto de alterações em tendões, nervos, músculos, ligamentos, ossos e articulações, decorrentes de sobrecargas mecânicas. Já o Dort foi pensado para substituir a LER, pois a maioria dos trabalhadores não apresentam evidências de lesões, além do que outros tipos de sobrecargas também podem ser nocivos ao trabalhador.
A adequação à NR-17 ainda é a principal forma de prevenir casos dessas doenças, mesmo no home office. Para isso é preciso fazer uma adequação ergonômica dos ambientes, realizar alongamentos e pausas durante as atividades, cuidar da postura e ajustar o ritmo de trabalho, com a redução da jornada ou de horas extras.
4. Hérnias
O disco vertebral, localizado entre uma vértebra e outra, tem a função de absorver os impactos causados pela movimentação natural do corpo. Se esse disco perde seu formato, causando pressão nas raízes nervosas, surge a hérnia de disco. É mais frequente em quem adota posições inadequadas na hora de trabalhar ou são obesas/sedentárias, causando uma dor intensa no local, dificultando a realização de movimentos simples – como abaixar, girar o corpo ou levantar-se –, e dando uma maior sensação de fraqueza e dormência em áreas próximas.
Assim, como dito para as demais doenças listadas neste post, a principal forma de prevenção é na adaptação ergonômica do espaço, na correção da postura e na realização de atividades físicas.
5. Varizes e tromboses
Apesar de comuns para quem trabalha muito tempo em pé, as varizes também podem aparecer em quem fica sentado de forma incorreta. São caracterizadas por marcas roxas nos membros inferiores, causadas pela dilatação dos vasos responsáveis pelo envio do sangue de volta para o coração. E, mesmo que não pareçam ser uma doença grave, é uma das mais importantes causas de afastamento do trabalho, uma vez que a pessoa sente tantas dores que não consegue mais ficar em pé e exercer sua função.
Já as tromboses ocorrem quando há a formação de coágulos em lugares que não houve sangramento, causando inflamação na parede do vaso. Em casos mais graves, esse coágulo pode ser enviado para os pulmões, bloqueando as funções do órgão e causando uma embolia pulmonar. Além da imobilidade e da baixa movimentação dos membros inferiores, uma das causas da trombose pode ser justamente as varizes.
Para evitar que essas doenças surjam é preciso que o trabalhador descanse por cinco minutos a cada meia hora, colocando os pés para cima para melhorar a circulação do sangue. Levantar-se para buscar uma água de tempos em tempos, ir ao banheiro ou até mesmo olhar a rua contribui para uma boa prevenção.
6. Problemas de visão
Quem trabalhava de forma presencial em escritório já possuía um problema com o tempo de exposição a telas, mas no home office isso é agravado. A luminosidade constante pode levar à diminuição na frequência do piscar dos olhos, o que diminui a lubrificação dos globos oculares e pode acarretar uma instabilidade da qualidade de visão. Além disso, quando utilizados por longos períodos, esses aparelhos podem alterar alguns aspectos da visão, como a capacidade de enxergar de perto.
Para prevenir que isso ocorra, a empresa deve garantir uma boa iluminação do espaço de trabalho dos colaboradores e o próprio trabalhador precisa fazer um esforço voluntário para piscar e garantir um nível de lubrificação adequado. O uso de lubrificantes, realizar pausas a cada 20 minutos e prestar atenção na posição do monitor é fundamental para a saúde ocular.
7. Cardiopatias
Como foi dito no início deste post, o sistema cardiovascular também pode ser impactado pelos hábitos criados no home office – afinal, a permanência em casa por longos períodos pode levar ao sedentarismo e gerar maior vulnerabilidade frente às cardiopatias. Sobrepeso, alta pressão arterial e desregulação dos níveis de glicemia e colesterol podem levar a casos de infarto, arritmia ou acidente vascular cerebral. O trabalho em casa também pode aumentar o consumo de certos alimentos, o que pode levar a desregulação dietética.
Para prevenir esses casos é preciso seguir todas as orientações dadas até aqui. Manter uma rotina organizada, ter bons hábitos de sono, praticar atividades físicas e realizar uma dieta balanceada contribuem para a prevenção.
Cuidados com o trabalhador
Para que as regras de segurança sejam implantadas no home office com qualidade, não adianta apenas observar a legislação: é preciso contar com o apoio de quem entende do assunto. O Grupo Ocupacional possui mais de 30 anos no mercado de Segurança e Saúde do Trabalho e está pronto para analisar sua empresa e oferecer as melhores soluções na área de SST. Solicite uma proposta e veja como podemos te ajudar!