Em 2017, o japonês Naoya Nishigaki, de 27 anos, morreu por overdose de medicamentos. Em uma matéria publicada pela BBC, a família relatou que o jovem costumava trabalhar até o último horário do trem, mas que também costumava dormir no escritório caso perdesse a condução. Às vezes, a jornada de trabalho chegava a 37 horas seguidas e ele acumulou mais de 100 horas extras no mês antes de sua morte. O excesso de trabalho o teria levado à exaustão e ao posterior suicídio.
Casos como esse tão comuns no Japão que eles até possuem uma palavra para descrevê-lo: karoshi. É um fenômeno que começou a ser notado pelo Ministério da Saúde japonês em 1987, após a morte repentina de vários altos executivos. A situação ficou tão graves que governo e empresas passaram a ser responsabilizados pelas ocorrências, com a concessão de indenizações às famílias da vítima. Em 2015, por exemplo, pedidos como esses chegaram ao número recorde de 2.310.
“Não vejo as corporações preparadas para apoiar esses profissionais. Normalmente, as síndromes aparecem em função do excesso de produção. É um tema complicado, mas não vejo uma preocupação adequada” conta a gerente executiva da Ricardo Xavier Recursos Humanos, Priscilla Telles, em entrevista para O Globo.
O que leva à morte?
Os principais sinais do excesso de trabalho são a falta de sono e o estresse, mas eles não são considerados os principais motivos das mortes. Apesar disso, são fatores que geram um impacto significativo nas condições físicas e mentais dos empregados e devem ser levados em consideração ao analisar os constantes casos de suicídios.
Dormir pouco, por exemplo, aumenta o risco de doenças cardíacas, distúrbios no sistema imunológico e algumas formas de câncer. Já o estresse pode levar a hábitos como o tabagismo e alcoolismo, além de agravar os casos de depressão. Ou seja, os impactos são sentidos em todos os âmbitos da vida e trazem consequências graves para os trabalhadores.
Como remediar?
Não é só no Japão que casos como esse ocorrem. De acordo com uma pesquisa da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o México lidera o ranking das médias individuais de horas trabalhadas por ano. Ele é seguido de perto por Costa Rica (2.225 contra 2.212 horas) e pela Coreia do Sul (2.069). O Japão aparece apenas na 22ª colocação (1.713).
Devido à alta carga de trabalho, esses países têm enfrentado diversos problemas ligados à saúde dos trabalhadores. Para tentar remediar esse problema, algumas ações governamentais têm sido estudadas. Alemanha, Suécia e Holanda discutem a possibilidade de diminuir a jornada de trabalho diária de 8 para 6 horas. Na França já está estabelecida uma jornada semanal de 35 horas, com direito à desconexão nos momentos de folga mediante acordo com o sindicato – desligando o WhatsApp e aplicativos de mensagens instantâneas. Já o Japão está tentando adotar a “Sexta-Feira Prêmio”, em que todos os funcionários deveriam ser dispensados mais cedo.
Doenças causadas pelo excesso de trabalho
Não é só o psicológico que é afetado quando um empregado passa tempo demais preocupado com a empresa. Dores pelo corpo, disfunções e até mesmo problemas respiratórios podem surgir se cuidados básicos não forem tomados. Veja quais são as principais doenças geradas pelo trabalho em excesso:
1. Transtornos mentais: essa é uma das principais causa de afastamentos no mundo corporativo. O estresse é o sintoma mais comum, mas os empregados também podem evoluir para quadros de burnout – quando corpo e mente são levados à exaustão – e depressão, o que pode levar a comportamentos suicidas.
2. Doenças de pele: trabalhar exposto a produtos de limpeza ou à luz solar por muito tempo contribui para o surgimento de inflações, queimaduras e até mesmo facilita o desenvolvimento do câncer de pele.
3. Problemas respiratórios: ambientes com pó, fumaça ou que permanecem fechados já são naturalmente propícios ao surgimento de doenças respiratórias. Agora imagine o que acontecerá se você ficar exposto a esses riscos mais do que o necessário?
4. Dores em geral: esse é um problema que afeta a todos os trabalhadores. Se você trabalha muito tempo em pé, a produtividade pode cair. Já quem permanece sentado por um tempo excessivo pode ter dores na coluna e tendinites, que impedirão a pessoa de realizar as atividades.
5. Fadiga: anteriormente citamos a síndrome de Burnout, mas a fadiga vai além. O cansaço se transforma em uma exaustão constante e, após algum tempo, a pessoa começa a se sentir apática perante os mais diversos estímulos. É uma tristeza constante, que pode evoluir para quadros de depressão, de ansiedade e até mesmo suicidas.
6. Insônia: a preocupação constante com o trabalho pode dificultar a desaceleração do cérebro, necessária para uma boa noite de sono. Além disso, alterações hormonais geradas pelas condições no trabalho podem gerar interrupções constantes, diminuindo a qualidade do descanso.
7. Transtornos alimentares: quando o corpo está em uma situação de estresse, a compulsão alimentar e a anorexia podem se torna desdobramentos comuns. São reações do corpo para lidar com os sentimentos desagradáveis utilizando a comida – mas que também podem se converter para os mais diversos vícios.
Além disso, todas essas disfunções podem levar a um quadro ainda mais grave, fragilizando o empregado – tanto física quanto mentalmente – e levando-o à morte. Por isso, as empresas devem se manter atentas à saúde física e mental dos funcionários, criando ações para evitar que eles percam a vida pelo excesso de trabalho.
Um acompanhamento profissional também é de suma importância, pois só um psicólogo ou um psiquiatra qualificado poderá ajudar os trabalhadores a lidarem com suas dores. Assim diminui-se o nível de transtornos mentais e melhora a segurança dentro das empresas.