Efeitos do isolamento social tem provocado efeitos na saúde mental das pessoas de todas as faixas etárias.
Em 2017, o Reino Unido nomeou pela primeira vez uma ministra da Solidão, responsável por combater o que a então primeira ministra considerava “a triste realidade da vida moderna”. Na época, mais de nove milhões de pessoas diziam viver permanente ou frequentemente sozinhas, segundo a Cruz Vermelha britânica – uma epidemia oculta que afeta 15% da população, em todas as fases da vida. O Japão também tomou atitude semelhante para lidar com os problemas do isolamento social. Mas se engana quem pensa que esse é um problema exclusivo de países desenvolvidos.
Uma pesquisa realizada pelo Instituto Ipsos, terceira maior empresa de pesquisa e inteligência de mercado do mundo, mostrou que o Brasil é o local em que as pessoas se sentem mais solitárias. Cerca de 50% das pessoas entrevistadas disseram se sentir sozinhas “muitas vezes”, “frequentemente” ou “sempre” – à frente dos turcos (46%) e sauditas (43%). Holandeses são os que menos sentem a solidão (15%), seguidos pelos japoneses (16%) e poloneses (23%).
Mas a situação fica ainda pior quando se analisa o cenário da pandemia. Segundo o mesmo estudo, 52% dos participantes disseram que o sentimento de solidão havia crescido nos últimos seis meses. “O brasileiro sofreu demais na pandemia. Os números assustadores de contágio e de mortes, um dos piores índices do mundo, e o longo período de quarentena, ajudam a explicar esse sentimento”, explica Marcos Calliari, presidente da Ipsos do Brasil em entrevista para a BBC News Brasil.
A psiquiatra Gilmara Bueno defende que temos uma necessidade de pertencimento, gerada pela evolução da espécie. Sentimento crônico de solidão, diminuição da autoestima, depressão, ansiedade e até mesmo ideias de suicídio são algumas das consequências da exclusão em longo prazo. “Medir solidão é muito difícil. O momento atual é de transição. Não sabemos ainda como navegar nesse novo mundo da era digital, intensificado pela Pandemia da Covid-19. A tecnologia digital tem sido fundamental para que suportemos o isolamento e o distanciamento social e inclusive para que vidas sejam salvas emocional e fisicamente”, diz.
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O que pode piorar o isolamento?
Ao analisar a crescente discussão sobre a solidão na sociedade atual, o consultor e escritor Celso Grecco, fundador da Atitude Pensamento Estratégico, realizou a pesquisa Projeto Solidão. “A pandemia aprofundou o mal-estar e trouxe à tona a preocupação com a solidão e seus efeitos, mas a verdade é que já existia uma epidemia de solidão em curso muito antes de entrarmos em isolamento social”, diz em entrevista para a Você RH.
Para que ele chegasse aos fatores que mais contribuem para alguém se sentir solitário, foram entrevistas mais de duas mil pessoas. O objetivo foi entender as causas desse sentimento e conscientizar para a importância de reconhecer o peso da solidão na vida dos brasileiros:
- Redes sociais: apesar de ser um local de encontro e identificação, também contribuem para o culto às conquistas individuais e à necessidade e sucesso a qualquer custo. Celso avalia que até mesmo serviços de streaming contribuem para o distanciamento, pois criam a ilusão de preenchimento do tempo e convidam ao recolhimento.
- Abandono: idosos, crianças e jovens são os mais afetados, graças à sobrecarga dos responsáveis pelos cuidados com outras tarefas. A hiperconexão dessas pessoas pode aumentar o risco de desconexão emocional, pois convida ao isolamento e dificulta as interações sociais.
- Insegurança: com um mundo cada vez mais frágil, ansioso, não linear e incompreensível, além das consequências da Covid-19, aumenta a sensação de estar desprotegido e de ter que se virar sozinho.
- Ansiedade de performar: ligado diretamente ao mito da produtividade, ao medo de errar e à supervalorização do sucesso e das realizações individuais. Isso acaba afetando mais os jovens, com 50% dos entrevistados de até 25 anos indicando que se cobram demais para realizar seus objetivos e acertar sempre.
- Relação com tempo e espaço: sensação de alerta constante, em que as pessoas passam a viver no automático em razão da velocidade da vida urbana, da imposição do imediatismo, de ter que fazer muitas coisas ao mesmo tempo e de precisar se adaptar rapidamente a tantas mudanças.
- Inadequação: envolve o sentimento de não pertencer, se sentir excluído ou não se ver representado, o que impede a criação de vínculos afetivos e de confiança. Isso vale para todos os espaços, de casa até o trabalho.
- Irrelevância: a pessoa sente que não faz diferença para a vida do outro, não tem com quem contar e, no âmbito profissional, que é apenas mais uma peça do negócio. Um sentimento gerado por relações superficiais, que geram sentimento de invisibilidade e insignificância.
O que fazer?
Primeiro, é preciso diferenciar a ideia de se sentir solitário com estar sozinho consigo mesmo. A solidão “saudável” pode ser uma boa fonte de criatividade pessoal e permite que o indivíduo mantenha contato consigo mesmo. Por isso, a psiquiatra Gilmara Bueno acredita que a solidão é “parte inexorável da nossa biologia”. Porém é preciso controlar essas doses para mantê-la em níveis saudáveis.
- Mantenha contato com amigos e família: nesse momento de isolamento social, é preciso se manter próximo às pessoas que nos fazem bem. Por mais que o ócio tire a vontade de interagir, é necessário fazer esse esforço e conversar com as pessoas mais próximas.
- Preencha o tempo: se engajar em atividades mentais, que precisam de concentração para serem concluídas, são uma das melhores formas para afastar a solidão. Aprender algo, desenvolver um hobby ou uma habilidade de longo prazo são apenas algumas das possibilidades para ter um objetivo em vista.
- Procure ajuda profissional: psicólogos podem ajudar a enfrentar esse período de pandemia com mais tranquilidade. Eles lhe ajudarão a entender melhor suas emoções e a lidar com todas as incertezas do futuro.
Saúde mental dos trabalhadores
Tudo o que foi dito neste post também tem efeitos para os funcionários das empresas, exigindo um acompanhamento constante da área de Saúde e Segurança do Trabalho. Nesse sentido, a Ocupacional também preparou uma estrutura completa para auxiliar seus clientes a controlar os riscos da Covid-19.
A principal ação realizada nesse sentido é o plano de contingência, que avalia os riscos existentes e quais ações devem ser tomadas para minimizá-los. Ele é elaborado de acordo com cada as particularidades de cada negócio e da operação da empresa. Quer saber mais sobre esse assunto? Então entre em contato com a gente!