Foram quase quatro milhões de acidentes e doenças do trabalho registradas entre 2012 e 2017. Um gasto de R$ 26 bilhões com benefícios (auxílio-doença, aposentadoria por invalidez, pensão por morte e auxílio-acidente) e 315 milhões de dias perdidos. Cerca de 15 mil pessoas não voltaram para casa após um dia de trabalho que tinha tudo para ser normal.
“São 2.500 famílias que ficam órfãs a cada ano devido à negligência de empregadores que não consideram o trabalho seguro como condição para o trabalho digno”, disse o procurador-geral do Ministério Público do Trabalho (MPT), Ronaldo Fleury, durante a apresentação dos números do Observatório Digital de Saúde e Segurança do Trabalho.
A Organização Internacional do Trabalho (OIT) estima que 4% do Produto Interno Bruto dos países sejam perdidos com acidentes e doenças ocupacionais. No caso do Brasil, por exemplo, esse valor chegaria a R$ 264 bilhões somente em 2017. “Precisamos reconhecer nossas fragilidades para termos melhores condições de trabalho em um meio ambiente mais seguro para todos”, destacou o procurador-geral.
E nem a queda do número de registros de acidentes em 2017 pode ser comemorada. Em um cenário de crise econômica e com a aprovação da reforma trabalhista, Ronaldo Fleury aponta que a acidentalidade não mudou. “Se considerarmos o número médio de empregos com carteira assinada em cada ano analisado, verificamos que o total de acidentes a cada 100 mil trabalhadores formais não caiu, sendo de 1.760 em 2016, e de 1.761 em 2017.”
Rankings de acidentes ocupacionais
Segundo o Ministério Público do Trabalho, o atendimento médico hospitalar lidera a lista das atividades que mais geraram acidentes e doenças do trabalho entre 2012 e 2017, com cerca de três vezes mais casos registrados que o segundo colocado. Os mais afetados são alimentadores de linha de produção, técnicos em Enfermagem, faxineiros, serventes de obras e motoristas de caminhão. Confira quais as dez áreas mais perigosas:
• Atendimento hospitalar: 10%
• Comércio varejista: 3,5%
• Administração pública: 2,6%
• Correios: 2,5%
• Construção: 2,4%
• Transporte rodoviário de carga: 2,4%
• Abate de aves, suínos e pequenos animais: 1,7%
• Fabricação de açúcar: 1,7%
• Cozinheiro: 1,6%
• Coleta de resíduos: 1,2%
No ranking dos estados com mais Comunicações de Acidentes de Trabalho (CATs), quem lidera é São Paulo, com 37% de todos os registros do país. Minas Gerais vem em sequência, com 10%. Quando se trata dos gastos com afastamentos previdenciários, São Paulo continua no topo do ranking (23,34%), mas dessa vem quem aparece em segundo é Santa Catarina (10,11%).
Nesse cenário, quatro tipos de acidentes merecem destaque. A maior parte das CATs é feita por cortes, lacerações, feridas contusas ou puncturas (636.411 casos – 21,03%). As fraturas vêm logo em seguida (529.360 casos – 17,5%), com contusões e esmagamentos (476.283 casos – 15,74%) e amputações ou enucleações (33.851 casos – 1,12%) fechando a lista.
Os números acima, porém, podem não ser um retrato fiel da realidade. Segundo o procurador-geral Ronald Fleury, há uma subnotificação por parte das empresas, com mais de 50% dos casos não sendo comunicados oficialmente. “Acidentes – como contusões – são classificadas apenas como dor. Porque as empresas, quando começam a gerar muitos acidentes de trabalho, o valor que precisam recolher para a Previdência Social se eleva. Então, há uma subnotificação para que elas não paguem a mais.”
Observatório Digital
Esse levantamento é realizado pelo Smartlab de Trabalho Decente – uma cooperação entre o Ministério Público do Trabalho e a Organização Internacional do Trabalho. Os dados são coletados junto à Previdência Social, mediante acordo firmado em 2014 com o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e o Ministério da Fazenda.