Pressão constante para atender às demandas, formas de comunicação instantâneas que aumentam a velocidade do trabalho e altos níveis de competição. Vida pessoal cada vez mais mesclada à profissional. Dores de cabeça constantes, mudanças de humor, ansiedade, apatia, desesperança, solidão. Um cenário apontado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) como a principal causa do aumento dos afastamentos por transtornos mentais em todo o mundo.
No relatório Adoecimento mental e trabalho: a concessão de benefícios por incapacidade relacionados a transtornos mentais entre 2012 a 2016, publicado em abril de 2017, o Ministério da Saúde coloca essas enfermidades como a 3ª maior causa de afastamento do trabalho no país. Cerca de 9% dos auxílios-doença e aposentadorias por invalidez são gerados por transtornos mentais e comportamentais, perdendo apenas para lesões/envenenamentos (31%) e doenças do sistema osteomuscular (19%).
Além disso, o estudo também mostrou que a depressão é a principal causa de pagamento de auxílio-doença não ligado a acidentes, com 31% dos casos. Os transtornos de ansiedade vêm logo em seguida, com 18%. Outro dado que preocupa é o de auxílios pagos relacionados ao trabalho. As reações ao estresse grave, transtornos de adaptação e episódios depressivos causaram 79% dos afastamentos no período de 2012 a 2016.
Riscos à saúde mental
Na Europa, o problema é ainda maior. A OIT coloca o estresse na 2ª posição entre os problemas de saúde mais comuns relacionados ao trabalho. São cerca de 40 milhões de pessoas afetadas. Segundo a Organização, entre 50% e 60% dos dias de trabalho perdidos estariam ligados a esta condição.
A Agência Europeia para a Segurança e Saúde no Trabalho observou algumas características que contribuem para o aumento das doenças psicossociais:
- Cargas de trabalho excessivas;
- Exigências contraditórias e falta de clareza na definição das funções;
- Falta de participação na tomada de decisões que afetam o trabalhador;
- Falta de controle na forma como se executa o trabalho;
- Má gestão de mudanças organizacionais;
- Insegurança laboral;
- Falta de apoio por parte de chefia e colegas;
- Assédio psicológico ou sexual.
Ou seja, os trabalhadores sofrem quando as exigências de seu trabalho são excessivas e superam a sua capacidade de executar as tarefas. Deixa de ser estimulante e se torna uma impossibilidade, podendo até mesmo se transformar em graves problemas de saúde física, como doenças cardiovasculares. A empresa também sai perdendo, por diminuir a produtividade, aumentar o absenteísmo e as taxas de acidentes e lesões.
Por isso é tão importante se preocupar e investir no bem-estar do empregado. O coordenador de Saúde Mental do Ministério da Saúde, Quirino Cordeiro, afirma que esses números “mostram a importância da saúde mental no ambiente de trabalho. E como esse local pode, se não for um ambiente bem organizado e que leve em consideração a saúde do trabalhador, ser danoso para o funcionário. Daí a importância de trabalhadores, empresas e a sociedade como um todo, atentar para essa situação”, conclui.